A exposição Permanente abrange várias facetas dos universos culturais africano e afro-brasileiro, abordando temas como religião, obra, arte, diáspora africana e escravidão, e registrando a trajetória histórica e influências africanas na construção da sociedade brasileira.
Com mais de 6.000 obras, incluindo pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidas entre o século XV e hoje, a coleção abrange várias facetas dos universos culturais africanos e africanos. Brasileiros. Atualmente, está dividido em 06 grupos: África: Diversidade e Permanência, Trabalho e Escravidão, Religiões Afro-Brasileiras, O Sagrado e o Profano, História e Memória e Artes Plásticas: a Mão Afro Brasileira.
A exposição do acervo do Museu Afro Brasil pretende contar outra história brasileira. Pretende desconstruir um imaginário da população negra, construído fundamentalmente a partir da perspectiva de inferioridade ao longo de nossa história e transformá-lo em um imaginário estabelecido em prestígio, igualdade e pertencimento, reafirmando o respeito por uma população matricial da brasilidade.
África: Diversidade e Permanência
Centro dedicado à riqueza cultural, histórica e artística dos povos africanos. Apresenta obras das mais variadas funcionalidades e concepções estéticas, que demonstram a competência técnica de seus autores e exemplificam a imensa diversidade desse continente. As janelas mostram tudo, desde máscaras e estatuetas de madeira, bronze e marfim a roupas bordadas com fios de ouro, de diferentes países e grupos culturais como Attie (Costa do Marfim), Bamileque (Camarões), Luba (Rep. Democrática do Congo) , Tchokwe (Angola) e Ioruba (Nigéria).
O núcleo da coleção dedicada à história, cultura e arte da África preserva um grande número de objetos, dos mais diversos conceitos e funcionalidades estéticas, produzidos, principalmente, por grupos étnicos das nações subsaarianas, entre os dias 15 e 20. séculos. Existem obras para uso ritual, mágico ou religioso (representações de deuses e outras entidades divinas, figuras maternas ligadas a rituais de fertilidade, estatuetas investidas em poder medicinal, etc.) e artefatos para o uso diário (tubos de procissão, pentes, relicários e elementos de mobiliário )
Os materiais utilizados (madeira, marfim, terracota, tecidos, contas, etc.) variam de acordo com a fonte. Vários grupos e países culturais estão representados: Attie (Costa do Marfim), Bamileque (Camarões), Yombe, Luba (República Democrática do Congo), Yoruba (Nigéria), entre muitos outros. Destaca-se a rica coleção de máscaras africanas, composta por peças de admirável senso estético e imbuídas de diferentes simbologias, utilizadas em cultos e rituais antigos e como instrumentos de controle e regulação da ordem social em numerosas etnias (iorubá, ecóis, Bobo, Gueledé etc.).
O núcleo também inclui uma série de obras produzidas por artistas europeus, cobrindo aspectos importantes da historiografia africana. Existem mapas holandeses do século XVII, reproduzindo o território africano, litografias etnológicas produzidas por Rugendas, gravuras e fotografias representando figuras poderosas dos reinos africanos do passado.
Trabalho e Escravidão
Centro que visa destacar o conhecimento e as tecnologias trazidas pelos africanos escravizados no campo do trabalho. Tanto no ambiente rural quanto no urbano, o conhecimento dos africanos foi decisivo para o desenvolvimento dos ciclos econômicos. Além de pinturas, gravuras e esculturas retratando parte dessas contribuições, os visitantes podem apreciar documentos e outros objetos relacionados ao mundo do trabalho, como trituradores de cana, moldes e ferramentas para açucar de carpinteiros e ferreiros.
Esse núcleo trata do papel dos africanos escravizados e seus descendentes na construção da sociedade brasileira, como força de trabalho fundamental em todos os ciclos de desenvolvimento econômico do país. Ele mantém documentos iconográficos que atestam a brutalidade desse processo e a assimilação gradual e silenciosa pela sociedade dos valores e costumes africanos decorrentes da diáspora. Existem várias litografias de Debret e Rugendas, registrando as punições aplicadas aos escravos por seus senhores, as viagens nos porões de navios negreiros e o trabalho forçado nas usinas de açúcar.
O núcleo conserva diversas ferramentas de carpintaria, carpintaria e outros instrumentos de trabalho utilizados pelos escravos, além de uma série de instrumentos de tortura e punição, como gargantas, remos e turn-mundos. O núcleo também inclui uma série de fotografias, de autores como Marc Ferrez, Victor Frond e Virgílio Calegari, registrando escravos negros e libertos em seus ofícios.
Outra coleção importante desse núcleo é composta por documentos relacionados à resistência africana à escravidão e à participação dos negros nos movimentos de independência do Brasil. Existem mapas quilombolas do século XVIII, anúncios de recompensas pela captura de escravos fugitivos, representações artísticas de líderes da resistência negra e personalidades ligadas ao movimento abolicionista, como Zumbi dos Palmares e José do Patrocínio, realizados por artistas como Alípio Dutra e Antônio Parreiras.
Religiões afro-brasileiras
Centro dedicado às religiões e cultos brasileiros que possuem matriz africana. Visões de mundo e mitologias são destacadas por meio de uma rica iconografia, com ênfase no panteão de santos, orixás e outras entidades adoradas no Brasil. No espaço reservado ao núcleo, podem ser vistas roupas de Egungun e orixás, instrumentos musicais, pinturas, gravuras, esculturas, instalações e fotografias dedicadas ao tema.
Além da apropriação e reinterpretação dos elementos presentes nas festividades católicas, a escravidão forçou o contato e a coexistência entre religiões de diferentes povos africanos, resultando em uma assimilação múltipla de elementos semelhantes de suas culturas. Dessa maneira, divindades, ritos e cultos de diferentes origens foram fundidos em um amálgama comum, que resultou em religiões afro-brasileiras. Nesse núcleo, são preservadas peças relacionadas a essas religiões, seus personagens e ritos, que vão desde esculturas e fotografias a roupas e altares, desde o período colonial até os dias atuais.
Destacam-se as diversas peças relacionadas a Quimbanda, Xangô e, principalmente, Candomblé – religião de origem iorubá, difundida em todo o território brasileiro – como estatuetas de Iemanjá, Ibejis e objetos rituais de orixás, produzidos no Brasil e na África, em suas aspectos mais diversos (Kekes, Jejes, Angola, etc.). Existem vários espécimes de balangandãs, jóias e amuletos usados por mulheres baianas em ocasiões festivas e rituais. Há também um importante conjunto de fotografias de artistas como Pierre Verger, Mário Cravo Neto, Maureen Bisilliat e Adenor Gondim, documentando os ritos religiosos afro-brasileiros.
O sagrado e o profano
Nesse núcleo estão representadas festas celebradas no Brasil, ligadas ao sagrado e celebradas no espaço festivo da rua. Muitos dos festivais populares brasileiros, como Congada e Maracatu, remontam ao período colonial e foram considerados espaços de sociabilidade usados pelos africanos escravizados para celebrar suas tradições e manter suas identidades culturais. Assim, em vários festivais brasileiros é possível encontrar instrumentos musicais de origem africana, símbolos relacionados aos reinos antigos do continente, materializados no núcleo através de máscaras, bandeiras e roupas.
Nesse núcleo, são preservadas obras relacionadas à imposição da fé cristã em cativos negros, documentando amplamente o subsequente sincretismo religioso que marca a sociedade brasileira. As celebrações festivas católicas – vistas no período colonial como grandes eventos cívicos e instrumentos importantes para a difusão da doutrina cristã – proporcionavam espaços sociais para os escravos africanos e seus descendentes se apropriarem dessas festividades, adaptando frequentemente o simbolismo católico às suas referências culturais. e ritos de origem.
Um grande número de gravuras, aquarelas e fotografias se destacam na coleção, documentando as festas religiosas do catolicismo popular e as confraternizações afro-brasileiras (festas de Nossa Senhora do Rosário, Divino e Irmandade da Boa Morte), bem como as celebrações “folclóricas” . de influência negra (congadas, maracatu, bumba-meu-boi, coroação dos reis negros etc.), além de adornos, máscaras, objetos e roupas usados nessas festividades. O culto aos santos negros, como Santo Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito, é representado através de uma seleção imaginária do período colonial. Também importante é a grande coleção de ex-votos – imaginário imbuído de intenções votivas, mágicas ou religiosas, amplamente produzidas no Brasil colonial.
História e Memória
Centro dedicado à história e memória de importantes personalidades negras que se destacaram em diversas áreas do conhecimento, desde o período colonial até os dias atuais. Fotografias e documentos exaltam a trajetória de escritores como Carolina Maria de Jesus, autora do livro Quarto de Despejo; dos engenheiros da família Rebouças, além de outros notáveis como Teodoro Sampaio, importante geógrafo e arquiteto cujo nome foi atribuído, em sua homenagem, a uma rua conhecida de São Paulo.
No núcleo dedicado à história e à memória, a maior preocupação é resgatar e relembrar os grandes expoentes de negros e mulatos que se destacaram em diversas áreas, desde o período colonial até os dias atuais. Assim, preservam-se pinturas, fotografias, esculturas, gravuras e documentos relacionados a personalidades históricas (Zumbi dos Palmares, Henrique Dias, José do Patrocínio), escritores e jornalistas (Luís Gama, Antônio Gonçalves Crespo, Cruz e Sousa, Machado de Assis), engenheiros (André Rebouças, Teodoro Sampaio), médicos (Juliano Moreira), artistas (Ruth de Souza) e intelectuais em geral (Milton Santos, Manuel Querino etc.).
O núcleo também é composto por testemunhos materiais da evolução histórica dos negros no Brasil. Existem objetos e documentos que relatam o envolvimento dos negros em episódios históricos, como a Batalha dos Guararapes, o Levante dos Malês, a Guerra do Paraguai, a Revolta de Chibata e a Revolução de 1932. Existe uma vasta iconografia sobre o movimento abolicionista do século XIX, bem como uma amostra significativa de ensaios e periódicos produzidos pela imprensa negra no Brasil nos séculos XIX e XX (coleções de jornais como A Liberdade, A Voz da Raça e O Clarim d’Alvorada, entre outros).
Artes Plásticas: da Mão Afro Brasileira
O Centro de Artes Plásticas exibe obras que abrangem diferentes períodos da arte no Brasil, do barroco e rococó, do século XIX e da arte acadêmica, além de arte popular, arte moderna e contemporânea. Entre os artistas em exibição estão Estevão Roberto da Silva e as artistas contemporâneas Rosana Paulino, Rubem Valentim, Mestre Didi, entre outros. No meio de produções contemporâneas, também são exibidas obras de artistas africanos e afro-americanos, como Gerard Quenum, Zinkpé e Melvin Edwards.
Esse núcleo preserva exemplos importantes da presença negra ao longo da evolução das artes no Brasil. Ele preserva principalmente obras de arte executadas por artistas negros e mulatos, mas também inclui peças que têm como tema o universo negro. É perceptível e bem documentada a forte presença de artistas negros durante o período colonial, que acabaria definindo a arte brasileira de maneira definitiva. No inventário de gemas do museu, são preservadas esculturas de Aleijadinho e Mestre Valentim e pinturas de José Teófilo de Jesus, Frei Jesuíno do Monte Carmelo, Veríssimo de Freitas e Joaquim José da Natividade.
Com a instituição da educação oficial da Academia Imperial de Belas Artes (intimamente associada à formação da elite econômica do país), a contribuição negra para a arte nacional diminuiu significativamente. Mesmo assim, preservam-se exemplos importantes dessa corrente, representados na coleção pelas naturezas-mortas de Estêvão Silva, nos retratos de Antônio Rafael Pinto Bandeira e Emmanuel Zamor, nas paisagens de Antônio Firmino Monteiro e no vasto conjunto de pinturas executada pelos irmãos João e Artur Timóteo da Costa (autorretratos e retratos de negros, marinhas, paisagens e estudos de nus, entre outros).
No segmento referente à arte do século XX, há um conjunto de pinturas de Benedito José Tobias, várias serigrafias e esculturas de Rubem Valentim e outras obras de Heitor dos Prazeres, Ronaldo Rêgo, Octávio Araújo, Manuel Messias, Joseph Pace, Caetano Dias , José Igino, Tibério, Jorge Luís dos Anjos, entre outros. Finalmente, há conjuntos representativos da arte popular afro-brasileira, onde se destacam as obras de Mestre Didi, e uma coleção de fotografias artísticas, com nomes como Madalena Schwartz, André Vilaron, Eustáquio Neves, Sergio Valle Duarte, Walter Firmo, Alfred Weidinger entre outros.
Museu Afro Brasil
O Museu Afro Brasil é uma instituição pública, mantida pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e administrada pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura.
O objetivo é ser um museu contemporâneo, onde os negros possam ser reconhecidos.
Mais de 6.000 obras destacam a importância do povo africano na formação da cultura, herança e identidade brasileiras, hoje conhecidas. Além disso, oferece uma celebração da arte e realizações dos africanos e afro-brasileiros.
A coleção é considerada a maior afro-americana da América, com mais de 6.000 obras-primas, esculturas, documentos, gravuras, cerâmicas, pinturas, artes contemporâneas, joias, objetos, relevos, fotografias e têxteis.
Mais de 70% da coleção está em exposição de longo prazo, retratando principalmente o Brasil, alguns países do continente africano, Cuba, Haiti e Estados Unidos.